Desafios da Inversão de Fluxo de Energia Solar: Impactos no Setor de Geração Distribuída e Centralizada

A inversão do fluxo de energia solar marca uma transformação significativa na forma como a energia é gerada e distribuída. Para os integradores de energia solar, esse aspecto tem representado um desafio, gerando entraves nas aprovações e homologações de projetos de geração distribuída (GD) e geração centralizada (GC). Consequentemente, essa situação também acaba afetando o mercado financeiro que atua nesse setor.

A inversão de fluxo ocorre quando sistemas de geração de energia solar produzem mais energia do que a demanda local dos consumidores conectados à mesma rede. Esse excedente é injetado de volta à rede elétrica da concessionária, alterando o fluxo tradicional, que originalmente seria da concessionária para a carga local do consumidor.

De acordo com estudos realizados pela Greener, no primeiro semestre de 2024, Minas Gerais liderou o ranking de casos de inversão de fluxo, com 76%, um aumento em relação aos 63% registrados no ano anterior. Rio Grande do Sul e Paraná vêm logo atrás. Em julho de 2024, a ANEEL publicou a Resolução Normativa 1.098/2024 como uma resposta às necessidades de adaptação a essa nova realidade. A resolução apresenta um manual para as distribuidoras de energia elétrica elaborarem e apresentarem aos consumidores os estudos de inversão do fluxo de potência.

Para o mercado financeiro, essa situação tem gerado impactos significativos. Projetos financiados e instalados muitas vezes não são homologados devido à sobrecarga das redes locais. Como consequência, esses projetos ficam impossibilitados de serem finalizados, o que afeta diretamente na adimplência dos financiamentos. Os clientes finais se veem com suas usinas instaladas, mas sem conexão devido a reprovação da rede de concessionária, o que acarreta na falta de retorno do investimento e cumprimento com o acordo contratual junto a financeira.

Para minimizar os transtornos com os clientes finais, algumas instituições financeiras passaram a exigir o parecer de acesso aprovado – documento emitido pela concessionária indicando a aprovação de conexão na unidade solicitada­ – Esse parecer tem sido requisitado para a liberação de financiamentos, a fim de garantir que o cliente final terá o retorno esperado do seu investimento, refletindo diretamente na adimplência do financiamento.

Estamos apenas no início de uma transição que redefine o papel do consumidor de energia. Para engenheiros e profissionais do setor, essa transformação exige uma visão estratégica, voltada para a técnica de criação de um sistema energético mais flexível e adaptável. A inversão de fluxo não é apenas uma questão técnica, mas um reflexo do futuro descentralizado da energia. As redes de distribuição brasileiras precisam de projetos de melhoria para poder acompanhar o crescimento energético do país, evitando assim problemas relacionados à inversão de fluxo.

 


Luiz Moura
COO e Engenheiro da Solfi

 

 

 

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